Parceria incontornável para estabilidade mundial
 
2016-04-06 15:45

O longo período de conflito armado - mais de três décadas-, e a forma como conseguiu ultrapassar essa fase difícil da sua trajectória como Estado independente e soberano, deram a Angola uma sensibilidade diferente - e até única -, para perceber e abordar as questões relacionadas com a paz e segurança.

Afirma o embaixador chinês, numa entrevista ao Jornal de Angola.

A opinião de Cui Aimin é partilhada pelos embaixadores Jean-Claude Moyret, de França, e John Dennis, do Reino Unido, todos membros permanentes do Conselho de Segurança das Nações Unidas. Os três diplomatas falaram à nossa reportagem sobre a presidência rotativa mensal de Angola no Conselho de Segurança, mas também sobre a reforma do órgão a quem compete gerir as questões de paz e segurança no mundo.

O diplomata chinês fala do conflito armado, que terminou em Abril de 2002, como “um período infeliz da história do povo angolano”, que no entanto tem sido o “tal elemento diferenciador” que ajuda a entender os “assinaláveis progressos que Angola vem registando no plano interno e no campo diplomático”.

Está no seu passado de luta e de resiliência, refere Cui Aimin, a explicação para o aumento da influência de Angola na região dos Grandes Lagos e a consolidação cada vez mais tangível do seu estatuto de “parceiro incontornável da ONU, em matéria de paz e segurança”.

A poucos dias de terminar o mandato na presidência rotativa mensal do Conselho de Segurança, visto já ter sido realizado um Debate Aberto sobre a paz e segurança na região dos Grandes Lagos, e hoje, precisamente, outro sobre o papel das mulheres na prevenção e resolução de conflitos, convidamos o embaixador da China a opinar sobre a escolha do tema central da agenda do mês proposta por Angola.

Cui Aimin argumenta que o facto da região dos Grandes Lagos estar situada bem no centro de África, qualquer que seja a ocorrência em termos de instabilidade ou insegurança tem implicações em praticamente todo o continente. O diplomata chinês entende que apesar de existirem focos de instabilidade como são os casos da RDC, na zona dos Kivus, do Burundi e Sudão do Sul, o quadro hoje é bem melhor do que foi no início do século passado.

Para Cui Aimin, Angola é o exemplo vivo dessa mudança. “Antes foco de instabilidade e insegurança, hoje é fonte de paz e de estabilidade de toda a região”, diz o diplomata, com o cuidado de assinalar que a sua opinião está longe de ser uma mera retórica ou qualquer tentativa de ser diplomaticamente correcto. “É a mais pura verdade. Angola já foi um lugar problemático e um dos pontos quentes da agenda da comunidade internacional e hoje é praticamente um parceiro incontornável para uma região com questões quentes relativamente consideráveis”. Observa que a comunidade Internacional deve manter a atenção na região dos Grandes Lagos, procurando desenvolver um esforço comum de modo a promover a estabilidade de longo prazo. Cui Aimin diz ser esta a grande aposta do Governo da China, e a sua própria grande meta pessoal, estreitar laços e criar bases bem sólidas para uma cooperação em toda a linha que resulte na manutenção da paz e na prosperidade dessa importante parcela do continente berço.

Diálogo é insubstituível

Cui Aimin vê por isso muitos “pontos comuns” na política externa angolana e chinesa. “A China e Angola consideram insubstituíveis o diálogo e a concertação política para solução de qualquer divergência”, assinala o diplomata, que encontra outro ponto comum no discurso várias vezes utilizado pela diplomacia angolana de que é fundamental “reforçar a capacidade de coordenação” para “solução rápida e eficaz das grandes questões regionais”.

O diplomata chinês falou também sobre a importância que a China atribui à questão de ser parte do problema ou da solução. Hábil nas palavras, Cui Aimin circunscreve a sua resposta ao tema da reportagem e chama atenção para o grau de complexidade dos factores que concorrem para a instabilidade quase endémica da Região dos Grandes Lagos.

“A solução para um tema quente como esse deve passar pelo esforço comum de todos os países da região e uma atenção redobrada da comunidade internacional”, aconselha Aimin, antes de sublinhar que para a alteração que se pretende no terreno, a abordagem de todos os intervenientes deve ser profunda e consequente. “É preciso fazê-lo de maneira profunda e nunca de forma superficial”.

Sobre a segunda presença como membro não permanente do Conselho de Segurança, o diplomata chinês diz ser fruto da conjugação de vários factores. Desde os “assinaláveis progressos” no plano interno, a uma diplomacia responsável e comprometida com a paz e a busca de consensos.

“Angola viveu um longo período de guerra, mas nestes anos conseguiu mudar rapidamente a sua imagem na comunidade internacional, além de ter aumentado a sua influência a nível da região e internacional. É natural que isso signifique ao mesmo tempo orgulho, mas também responsabilidade para este país que pela experiência rica que possui outros países só têm a ganhar, aprendendo com Angola”, assinala Cui Aimin. Fechamos a conversa com o embaixador da China com um tema que se mantém presente na agenda política internacional, apesar de ter sido levantado há décadas: a reforma do Conselho de Segurança. Ao responder, Cui Aimin fala do papel que o Conselho de Segurança desempenha no concerto das nações e salienta que a China há muito que defende reformas que possam resultar no “aumento da autoridade e na melhoria da eficácia” do órgão que tem a responsabilidade de salvaguardar a paz e a estabilidade internacional.

“A China apoia que se eleve a voz e a representatividade dos países em vias de desenvolvimento, em particular os Estados africanos”, refere o diplomata que defende ser “de todo justo” que mais países, especialmente os pequenos e médios que representam a maioria dos membros das Nações Unidas, possam “desempenhar um papel mais destacado no processo de tomada de decisões que lhes tocam directamente”.

Apesar de ser uma questão de certo modo complexa, por ser impossível de implementar de forma imediata e instantânea, o continente africano está no caminho certo ao primar por uma posição comum. “Esperamos que os países africanos possam continuar a manter essa unidade, aderindo à posição comum da União Africana, para defender os seus próprios interesses”, observa Cui Aimin.

 

Por Jornal de Angola

 

 

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